Ele estava lá...sentado naquele banco sujo da praça, pensando no que perdera. Pensando se tinha feito o certo, mas que diabo, como saber a essa altura. A sensação de abandono fulminava seu peito. Seu pai não teria feito isso, ele sabia. Esse saber batia forte na sua mente, arrebatando qualquer conquista sua.
Tudo o que conseguia pensar era que nada daquilo tinha valor. Nada do que conquistou naquela terra próspera se comparava ao que teve na infância. A casa cheia, alegria, momentos juntos que não eram mais possíveis. Mas tudo bem, um dia formaria sua família e encheria a casa novamente. Às vezes achava que aquelas lembranças eram só um filme que tinha dirigido.
Agora seu pai não mais estava lá. Pela primeira vez em 4o anos, seu pai não mais pertencia aquele mundo. A vida ficou cinza. As lágrimas, apesar da dor, não escorriam e isso o preocupava. Não podia mais contar com seu velho pra nada, nem conselho, dinheiro, abrigo, briga e alento. Pela primeira vez sentia de verdade a crueldade de Deus. A dureza da vida, como seu pai lhe dizia. A vida, agora, é pra valer.
Sentia que aquele sentimento fúnebre iria acompanhá-lo pra sempre. Como se não soubesse a riqueza que tinha nas mãos até perdê-la. Perdeu seu pai, mas sentia que tinha perdido a família inteira. A casa, como era antes, cheia de vida, brigas, cores, nunca mais seria a mesma. Então de certo modo, realmente perdeu a família como ela era.
Juntou os cacos internos e decidiu que ia levantar, mas uma dor lancinante invadiu seu peito e achou que fosse também sua hora. Por um segundo se sentiu emocionado, pois achou que fosse encontrar seu pai. Mas no segundo seguinte se lembrou o quão ruim fora, e pensou que iria a outro lugar, longe dos homens bons quando morrem. Desmaiou.
Acordou no hospital todo entubado, e amaldiçoou sua vida. Não queria estar ali, mais dor pela frente. Já era noite e a enfermeira de plantão veio trocar só o soro. Disse que o médico já vinha e ele imaginou que o doutor estivesse comendo alguma enfermeira gostosa no seu...vestiário, camarim, seja lá o que for.
Tinha que sair dali porque seu patrão não lhe poupará o que dele sobrar, caso demore. A vida tava ruim. Desejou de volta o útero de sua amada mãe, o feminino de amor.
No dia seguinte fez uma série de exames e foi liberado. O doutro comilão indicou exercício, pouca gordura e toda aquela penca de alimento sem gosto. Que bosta! Mas tudo bem, já era hora, há tempos vinha maltratando o pobre de seu corpo. Como um milagre, seu patrão o liberou por um tempo, para que se recuperasse da perda do pai e um pouco de sua saúde. Tá vendo, os idiotas também amam.
Gianini Giusepe resolveu que poria a mochila nas costas e andaria pelo mundo, quer dizer, pelo país, também nem tanto, pelo estado. A grana tá curta, não dá pra ir muito longe. Esse papo de encontrar seu eu, essas coisas. O pior é se o eu está fora de alcance, o eu não precisa de grana, ele é livre, não tem obstáculos, ele é invisível. De todo modo, ele saiu.
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